sábado, 29 de dezembro de 2012

A cultura é o manto da igualdade:
Não destrói, não exclui, nem discrimina.


(mote de Alexandre Morais – para o 5º Pajeú em Poesia)

O que vem de raiz impõe respeito;
Por exemplo: o xaxado e o baião.
Não se pode mexer com tradição,
Nem tratá-la com ranço ou preconceito.
Quem disser: “esta arte eu não aceito!”,
Esqueceu que é humano e ela é divina,
E que o artista, em si mesmo, traz a sina
De tentar melhorar a humanidade.
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Alexandre é “o cara” da cultura,
Pra quem tiro o chapéu todo momento.
Seu projeto retrata o seu talento,
Seu caráter jamais se desfigura.
“Pajeú em Poesia” não censura
A pureza da alma campesina.
Ele só não concorda, e nem combina,
Com quem pisa na nossa identidade.
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Esta “Mesa” forrada de repente
E enfeitada por vates geniais,
Vem mostrar que o sertão tem muito mais
Do que fome, pobreza e terra quente.
E o poeta, de forma inteligente,
Transbordando da verve nordestina,
Vem provar que o divino só termina
Quando um dia matarem a liberdade.
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Dedé Monteiro

A cultura de um povo é seu escudo
A reserva maior da educação
Preservando-a constrói-se uma nação
De uma gente feliz que tem de tudo
Sem cultura este povo fica mudo
Perde a fé, não tem força, se elimina
Desprezar as raízes nada ensina
Cultivar sua arte traz verdade
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Jorge Filó

 A cultura pra mim é o xaxado
É o aboio penoso do vaqueiro
É a vela na mão do jangadeiro
É a dança sagrada do reisado
É um carro de boi lubrificado
É banha de porco e brilhantina
Uma bodega sortida na esquina
E uma novena na comunidade
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Miguel Leonardo

A Cultura é o símbolo mais perfeito
Da história das civilizações
Porque cria e preserva tradições
Com orgulho, emoção, dom e respeito
Coração maternal sem preconceito
Com escolha, etnia ou melanina
Não aceita influência nem propina
Mas aceita somar boa vontade
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Zé Adalberto

 Pra tentar nivelar a raça humana
Hitler fez o que fez na Alemanha,
Dizimou cidadãos numa campanha
Tão imunda, covarde e tão tirana.
E o sangue jorrado em terra plana
É o manto que o mundo hoje abomina,
Não aquece, não cresce e não ensina
Como faz a cultura de verdade,
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Elenilda Amaral

Arco íris só brilha quando chove
Passarinho não canta na prisão
Um mendigo implora por um pão
Tudo isso aos poucos me comove.
Poesia é sustento que me move
Quando faço é deus que me ensina
Co’ o poder minha mente ilumina
Pra falar sobre vida sem maldade
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Erivoneide Amaral

 É a placa que apontando o destino
É lição para aquele que deseja
É a fonte do saber quando se almeja
É um mestre na vida de um menino
Companhia do poeta Pelegrino
É a rima de uma estrofe pequenina
Emoção que a alma contamina
Demonstrando toda sua intensidade
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Wellington Rocha

Na cultura quem mira sempre acerta
Desde um clássico composto por Sivuca
Carimbó cantado por Pinduca
Lá no sul vanerão é coisa certa
Parintins dá um grito de alerta
Caprichoso e Garantido é coisa fina
O São João das ruas de Campina
A catira lá em Natividade
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

 Temos a vaquejada em Surubim,
Tem o fank dos morros e dos guetos
Tem a festa de peão lá em Barretos
Festival de inverno em São Joaquim
Lá em São Domingos do Capim
É surf no rio quem domina,
Em Lençóis, na Chapada Diamantina
O reisado dita o ritmo na cidade.
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Quando escuto Pena Branca e Xavantinho
Gonzagão, Tonico e Tinoco
Castanha e Caju cantando coco
Vejo a arte espalhada no caminho
E um verso do sábio Canhotinho
É cultura na forma cristalina
Emitida do fundo de uma mina
Quem ninguém sabe a profundidade
A CULTURA É O MANTO DA IGUALDADE:
NÃO DESTRÓI, NÃO EXCLUI, NEM DISCRIMINA.

Ademar Rafael - Marabá-PA

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

5º PAJEÚ EM POESIA



Eu fui ao 5º Pajeú em poesia e gostei muito!
Miguel Leonardo*

Aconteceu no último dia 25/12/2012 o 5º Pajeú em poesia, um evento que homenageou o repentista que melhor canta as coisas do sertão – João Paraibano. O evento ocorreu em Afogados da Ingazeira no Beto Show, foi organizado por Alexandre Moraes e contou com a participação de vários expoentes da poesia pajeuzeira como o decano Dedé Monteiro, que coordenou a mesa de glosas.

Um dos destaques do evento para mim foi a participação de muitas mulheres jovens, que por sinal, têm mais charme ao declamar do que os poetas do sexo masculino. A participação das jovens poetisas até que poderia ser um tema de monografia e várias perguntas poderiam ser feitas de imediato: Por que as mulheres estão ocupando com tanta competência um espaço que antes era de domínio dos homens?  Poderemos em breve termos um recital, um festival ou uma mesa de glosas somente com mulheres? O fato é que a poesia do Pajeú continua viva e inovadora e esta região permanece sendo um filão para ser explorado por pesquisadores e um espaço de magia para se banhar a alma com o que há de mais sublime em nossos sentimentos.

Um garoto de 8 anos de idade, Samuel de Tuparetama, roubou a cena declamando versos como gente grande, alimentando a esperança da poesia rebrotar como árvore da caatinga que quando é decepada insiste em não morrer, brotando nas primeiras chuvas.

Além do recital com a nata dos poetas de ofício, houve a mesa de glosas e a homenagem dos violeiros fazendo apologia a João Paraibano e no fim, o próprio João juntamente com Sebastião Dias fecharam o evento com chave de ouro, arrancando aplausos da plateia. Portanto, quem não foi perdeu e para consolo resta agora se preparar para o sexto, no ano que vem. E para finalizar deixo um mote de minha autoria e a primeira glosa:

JOÃO PARAIBANO É QUEM CANTA
AS COISAS MAIS PURAS DO SERTÃO

Uma junta de bois a desfilar
Arrastando um carro ou um arado
O vaqueiro aboiando com o gado
O feijão no momento de florar
Uma vaca com a língua a banhar
O bezerro sem água nem sabão
A plumagem e o canto do cancão
Que a todo sertanejo encanta
João Paraibano é quem canta
As coisas mais puras do Sertão.


* Membro da Academia Serra-talhadense de Letras, professor  de Geografia da rede estadual de Pernambuco e prof. titular da FAFOPST.


terça-feira, 13 de novembro de 2012

DESPEDIDA

Para longe, muito longe
Hoje mesmo irei partir,
Portanto aqui eu estou
Pra poder me despedir
De você e então dizer-lhe:
Saudades irei sentir.

Eu fiz tudo o quanto pude
Pra conquistar seu carinho.
Não consegui, sendo assim
Seguirei outro caminho
Vejo que o meu destino
É viver sempre sozinho.

Perdoe-me se eu não resistir
E em sua frente chorar
Eu sei que será difícil
Minha emoção controlar.
Só me abrace fortemente
Pois talvez, talvez a gente
Nunca volte a se encontrar!

Hélio Leite - 2012


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

22 DE AGOSTO - DIA DO FOLCLORE

O QUE É FOLCLORE?

De conservar o folclore
Todos têm obrigação,
Para que nunca descore
A popular tradição
Os homens de grande estudo
Como Mainá e Cascudo
Guardam sempre nos arquivos
Populares tradições,
Cantigas, superstições
E costumes primitivos.

Você, caboclo, que cresce,
Sem instrução nem saber,
Escuta, mas não conhece
Folclore o que quer dizer;
O folclore é um pilão,
É um bodoque, um pião,
Garanto que também é
Uma grosseira cangalha
Aparelhada de palha
De palmeira ou catolé.

Posso lhe afirmar também
Folclore é superstição
O medo que você tem
Do canto do corujão.
Folclore é aquele instrumento
Para o seu divertimento
Que chamamos birimbau,
E também a brincadeira
Ritmada e prazenteira
Chamada Maneiro-pau.

Folclore, meu camarada,
Ouvimos a toda hora,
É estória de alma penada
De lubisome e caipora.
Preste atenção e decore,
Pois, com certeza, folclore
Ainda posso dizer
Que é aquele búzio de osso
Que você põe no pescoço
Do filho pra não morrer.

É o aboio magoado
Do vaqueiro na amplidão,
É o festejo animado
Da debulha de feijão,
Carro de boi e gaiola
E desafio, à viola,
Do cantador popular.
E também a toadinha
Da Ciranda-cirandinha
Vamos todos cirandar.

Eu e você que vivemos
No nosso pobre sertão
Muitas coisas inda temos
Da popular tradição;
Além de outras, o girau
E a carrocinha de pau
Em vez de bonito carro.
Que prazer, satisfação,
A gente comer pirão
Mexido em prato de barro!

E agora, prezado irmão,
Estes versos lhe dedico,
Lhe dei alguma noção
Do nosso folclore rico.
Não posso continuar,
Pois nada pude estudar,
De dentro do tema saio.
O resto lhe dirá tudo
Romão Filgueira Sampaio,
Mainá e Câmara Cascudo.
  
Patativa do Assaré
do livro Cante Lá Que Eu Canto Cá

quarta-feira, 18 de julho de 2012

FOTOS DA CAATINGA


"A caatinga também tem flores, frutos e água".
Miguel Leonardo

Divulgo aqui outras fotos da caatinga tiradas pelo professor e poeta Miguel Leonardo.
Quipá - Faz. Juazeiro – Serra Talhada/PE - 11/03/2012

Fazenda Extrema - Serra Talhada/PE
07°51’46,4”S  38°01’00,4”W  518m Rodovia PE 320 - Flores/PE   - 10/09/2011
Cipó-de-rego * 8°16’36,1” S  38°26’33,7” W  416m  PE 390 S. Talhada/PE  - 02/11/2011 
 Camará - Faz. Juazeiro – Serra Talhada/PE -  11/03/2012 
 Mucunã - 07°57’44,3” S  38°18’49,4” W  825m  Serra Talhada/PE - 14/03/2012
Ipê roxo ou pau - d’arco - Rodovia CE 293 - Abaiara/CE - 18/06/2011

07°50’16,8” S  38°06’48,8” W  1084m  Triunfo/PE 18/03/2012

 Faz. Mucuitu - Serra Talhada/PE - 31/01/2011
 Fruto do Ouricuri - Reserva ecológica do Padre Afonso - Mirandiba/PE - 30/01/2011



domingo, 8 de julho de 2012

10 ANOS SEM PATATIVA DO ASSARÉ

Hoje, 08 de julho de 2012, faz 10 anos que o Nordeste, o Brasil e o mundo ficou sem o poeta Patativa do Assaré. Homem simples, mas de sabedoria imensa, seus versos deram voz aos injustiçados, os esquecidos e mais necessitados. Faleceu em sua cidade natal, Assaré, aos 93 anos. Viva o Mestre!!


AMANHÃ

Amanhã, ilusão doce e fagueira,
Linda rosa molhada pelo orvalho:
Amanhã, findarei o meu trabalho,
Amanhã, muito cedo, irei à feira.

Desta forma, na vida passageira,
Como aquele que vive do baralho,
Um espera a melhora no agasalho
E outro, a cura feliz de uma cegueira.

Com o belo amanhã que ilude a gente,
Cada qual anda alegre e sorridente,
Como quem vai atrás de um talismã.

Com o peito repleto de esperança,
Porém, nunca nós temos na lembrança
De que a morte também chega manhã.

Patativa do Assaré
 

domingo, 24 de junho de 2012

SAUDADE DA GOTA SERENA!


Da sua pele macia,
Da sua boca pequena,
Do seu cheiro, dos seus olhos,
Da sua voz tão amena...!
Pra lhe dizer a verdade
Estou sentindo saudade
Que só a gota serena!

24/06/12

segunda-feira, 18 de junho de 2012

CARTÃO POSTAL DE JATIÚCA


Jatiúca certamente não tem
Coisa alguma pra chamar atenção
Tal qual à rara beleza de alguém
A qual é causa de admiração.

Refiro-me a uma mulher que contém
Traços esboçados com perfeição.
Ela é frajola, atraente e também
Tem um realce sem explicação.

Vejo nela o que falta nas demais,
Ela tem destaques especiais
E uma personalidade tão bela.

Por ser uma escultura divinal,
Defino-a, sim, como o cartão postal
Da minha vila pequena e singela.


Jatiúca, 30/04/00

terça-feira, 5 de junho de 2012

SÓ DEFENDE A NATUREZA
QUEM SE SENTE PARTE DELA

(À Profº Célia Marinho, grande
defensora do verde e da vida)
               
                - Mote de Ronilson Mascena -

Só quem sente, realmente,
A responsabilidade
De dar à humanidade
Um amanhã mais decente,
Defende o meio ambiente,
Faz protesto, briga, apela...
Pois o presente revela
Que o futuro é de incerteza.
Só defende a natureza
Quem se sente parte dela.

Por exemplo, o jardineiro,
Que é namorado da flor
E ao jardim, com todo amor,
Se dedica o tempo inteiro.
O índio é outro guerreiro
Apaixonado por ela,
Que defende a causa em tela
Com bravura e com grandeza!
Só defende a natureza
Quem se sente parte dela.

Quem fica rico matando,
Sufocando, poluindo,
Aterrando, destruindo,
Extraindo e desmatando,
Não está acreditando
Que a terra, mãe boa e bela,
No dia que se rebela
Faz da vingança a defesa...
Só defende a natureza
Quem se sente parte dela.

A Eco Noventa e Dois
Não foi nada interessante:
Mil promessas no durante,
Poucas ações no depois...
Chico Mendes que se impôs
Na luta verde-amarela
Tombou defendendo a “vela”
Que “alguém” não queria acesa!
Foi o herói da Natureza!
Morreu na defesa dela!

Quer saber quando é que vão
Se lembrar de defendê-la?
Talvez só depois de vê-la
Sem ar, sem vegetação...
Sem a menor condição
De vida com base nela.
Mas REMORSO não cancela
Crime, culpa e safadeza!
Defenda a mãe-natureza
Pra se sentir parte dela!

Dedé Monteiro – Tabira/PE, 18/11/92
Do livro Mais Um Baú de Retalhos – Pags. 137 a 139