quinta-feira, 30 de junho de 2011

POEMA DA MINHA TERRA

Belo poema de Rogaciano Leite na voz de Valdir Teles.


Hélio Leite e Valdir Teles

terça-feira, 28 de junho de 2011

OS MELHORES CANTADORES

Para Ariano Suassuna os melhores cantadores são os bons e os ruins. Os bons porque têm alguma coisa a dizer e o dizem bem. Os ruins porque não sabendo o que dizer, acabam dizendo as coisas mais estapafúrdias, dentro do maior rigorismo métrico, atingindo efeitos cômicos inusitados e até surrealistas. E exemplifica com uma glosa de Dimas Batista, um bom cantador, a um mote seu:

A VIDA VENCEU A MORTE

"Na vida material,
Cumpriu sagrado destino
O Filho do Deus divino
Nos deu glória espiritual;
Deu o bem, tirou o mal,
Livrando-nos da má sorte;
Padeceu suplício forte
Como o maior dos heróis,
Morreu dando a vida a nós.
A vida venceu a morte".

De mau cantador, Suassuna nos dá como exemplo a louvação de uma moça.

"Essa moça se parece
Com um pé de vegetação,
Porteira de pau a pique,
Três pneus de caminhão,
Crina de jumenta russa,
Água e chuva do sertão".

Ariano Suassuna uma vez estava assistindo a uma cantoria num lugar chamado Santa Luzia de Sabuji e na frente da cantoria estava um camarada, um tal de seu Joventino, com um revolver 38, e um cantador quando dá um mote que ele não glosa ele se considera desmoralizado. Então estava um cantador chamado Heleno Belo, estava lá glosando os motes, aí um camarada, um inimigo da humanidade, um camarada que estava lá atrás, abaixou e gritou: seu Joventino é ladrão. Que era pra ele glosar.

Heleno Belo, com uma baita presença de espírito, disse:

Só deixando de glosar
Embora seja um defeito
Quem glosa fica sujeito
A ferir ou melindrar.
Agora eu vou me arriscar
Ofendendo ao cidadão
Que, com calma e educação,
Podia ser meu amigo
Você diz, mas eu não digo
Seu Joventino é ladrão.


quinta-feira, 23 de junho de 2011

SAUDADE

Saudade é um sentimento
que machuca e dói por dentro.
Fere a alma, chega a sangrar
se estou longe do seu olhar.
Saudade do seu corpo, do seu jeito...
Saudade do seu cheiro.
Saudade do seu sorriso e do seu cantar.
Saudade do seu jeito de me amar.
Saudade dos seus olhos me dizendo coisas sem falar...
E saudade do seu modo de sonhar.
Mas assim que vejo o seu sorriso,
sinto-me no paraíso.
A saudade logo vai embora
e eu nem vejo a hora.
Vivo lindos momentos de felicidade.
Que depois viram apenas...
SAUDADE!!!

Dany Sanches

domingo, 19 de junho de 2011

SORRIR E CANTAR

Quando falas porque vivo rindo
Também falas por viver cantando
Se a vida é bela e esse mundo é lindo
Não há razões pra viver chorando.

Cantar é sempre o que a fazer eu ando
Sorrir é sempre o meu prazer infindo
Se canto e rio, é porque vivo amando
Se amo e canto e porque vivo rindo.

Se o pranto morre quando nasce o canto
Eu canto e rio pra matar o pranto
E gosto muito de quem canta e ri.

Logo bem vês por esses dotes meus
Que quando canto estou pensando em Deus
E quando rio estou pensando em ti.

ROGACIANO LEITE

sábado, 18 de junho de 2011

MOREIRA DE ACOPIARA 50 ANOS

SE VOLTARES

Como o sândalo humilde que perfuma
O ferro do machado que lhe corta,
Hei de ter a minh’alma sempre morta
Mas não me vingarei de coisa alguma.

Se algum dia, perdida pela bruma,
Resolveres bater à minha porta,
Em vez da humilhação que desconforta,
Terás um leito sobre um chão de pluma.

E em troca dos desgostos que me deste
Mais carinho terás do que tiveste
E os meus beijos serão multiplicados.

Para os que voltam pelo amor vencidos
A vingança maior dos ofendidos
É saber abraçar os humilhados.

ROGACIANO LEITE

sábado, 11 de junho de 2011

DIA DOS NAMORADOS

NAMORO AINDA É MELHOR
NO DIA DOS NAMORADOS

(mote de João Alderney)

Estando com minha amada
Não vejo o tempo passar,
O mundo pode acabar
Que não lembro de mais nada.
Nesta data abençoada
Os carinhos são dobrados,
E entre beijos demorados
Nossa alegria é maior
Namoro ainda é melhor
No Dia dos Namorados.


Hélio Leite

segunda-feira, 6 de junho de 2011

GAROTO INTELIGENTE

Um garoto querendo pegar um almoço mais gostoso e mais barato, matou com uma pedrada uma das galinhas do terreiro de Patativa e levou-a para mostrar ao poeta, dizendo que era uma raposa que havia matado.
Patativa, depois de examinar a galinha, reconhecendo a trama do garoto, deu-lhe para o almoço, mas fez o seguinte:

PÉ QUEBRADO

Um garoto inteligente,
Disse um dia em minha porta:
- Olhe uma galinha morta
Que eu achei!

Há pouco presenciei
Quando a raposa pegou
E logo que me avistou
Correu.

Já que isso aconteceu,
Se Patativa e Belinha
Não quiserem a galinha
Eu quero.

Respondi-lhe: eu considero
Que uma galinha assim,
Sem ser cevada é ruim
De tragar.

Querendo pode levar
Pois até me causa espanto
Em ver que você a tanto
Se atreve.

Mas antes que você leve
Este presente esquisito
Vou fazer corpo delito
Na galinha.

Não vi marcas na bichinha
Dos dentes do animal,
Mas vi um grande sinal
De pedrada.

E eu disse: meu camarada
Sua história aqui não medra
Raposa atirando pedra
Só se eu visse!

Tudo que você me disse
Fazendo grande alvoroço
Foi pra pegar um almoço
De graça.

Por esta vez você passa
Mas vou pedir-lhe uma cousa
Não brinque mais de raposa
Em meu terreiro.

PATATIVA DO ASSARÉ

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A TAMPA DO TABAQUEIRO

Vovô morreu muito pobre
Sem nada deixar de herança
Mas me deixou por lembrança
Um tabaqueiro de cobre.
Nunca vi coisa tão nobre,
Era um troféu verdadeiro!
Na tampa tinha um letreiro
Que o velho escreveu pra mim
Pedindo pra não dar fim
A TAMPA DO TABAQUEIRO.

Por isso eu nunca emprestava
O tabaqueiro a ninguém,
Mas quando chegava alguém
Pedindo tabaco, eu dava
O bicho nunca secava,
Pois quando estava maneiro
Eu machucava o tempero,
Torrava o fumo e fazia.
Tinha vez que nem cabia
A TAMPA DO TABAQUEIRO...

Eu estava mais do que liso
Num dia que faltou fumo...
Fiquei vagando sem rumo,
Quase que perco o juízo...
Meu irmão, com ar de riso,
Me vendo sem paradeiro,
Falou: “Vá no bodegueiro,
Peça e diga: “eu depois venho”
Ou então deixe de empenho
A TAMPA DO TABAQUEIRO...”

Eu disse assim pro meu mano:
“Já me deu dor e cabeça,
Mas inda que eu endoideça
Não faço ato tão tirano.
Embora que eu passe um ano
Aperreando o fumeiro
Não deixo de ser herdeiro
Desta coisinha estimada.
Morro e não deixo empenhada
A TAMPA DO TABAQUEIRO.

Não sei como não virei
A bola naquele dia:
Nunca vi tanta agonia
Como aquela que passei...
Somente de noite achei
Quem me emprestasse o dinheiro:
Corri pra venda ligeiro,
Mas na carreira caí
E, nessa queda, perdi
A TAMPA DO TABAQUEIRO.

Fiquei muito aperreado,
Procurei por todo canto,
Mas o escuro era tanto
Que nada deu resultado.
Já bastante encabulado,
Fui atrás d’um candeeiro.
Mas caía um chuvisqueiro,
O desgraçado apagou-se
E eu nem sei como encantou-se
A TAMPA DO TABAQUEIRO.

Voltei pra casa tremendo
Que só badalo de campa...
E a condenada da tampa
Eu parecia estar vendo.
Continuava chovendo,
Eu escutava o chuveiro.
Subia do bolso um cheiro
Que me deixava doente,
Sem poder tirar da mente
A TAMPA DO TABAQUEIRO...

Nessa noite aperreada
Não dei de sono um cochilo.
Escutei canto de grilo
Até três da madrugada...
Depois, sem café, sem nada,
Andei quase o dia inteiro.
Ninguém me dava roteiro
E eu me danava com isto.
Nem satanás tinha visto
A TAMPA DO TABAQUEIRO.

Notei que jeito não tinha,
Deixei de mão d’uma vez
Passou-se um mês, outro mês,
Sem notícia da tampinha.
Um dia, de tardezinha.
Eu tive um plano certeiro:
Pedi ao Pai Justiceiro,
Filho da Virgem Maria,
Que me mostrasse algum dia
A TAMPA DO TABAQUEIRO.

E eu não estava enganado.
Deus escutou minha voz.
A noite, dormindo a sós,
Eu tive um sonho engraçado:
Era um menino encantado,
Envolto num fumaceiro,
Dizendo: “Dedé Monteiro,
Vá lá no monturo, vá,
Que lá você achará
A TAMPA DO TABAQUEIRO.”

Acordei, corri pro muro,
Estava quase sem tino,
Pois o sonho do menino
Era verdadeiro e puro!
Inda estava um pouco escuro,
Fiz café, tomei primeiro,
Depois chamei um lixeiro,
Fomos os dois para o lixo,
Procuramos com capricho
A TAMPA DO TABAQUEIRO.

Procuramos sem repouso,
Até que o sol declinou.
Foi quando o lixeiro achou
A tampa muito orgulhoso!
E eu, muito mais jubiloso,
Paguei ao bom companheiro.
Depois mandei o ferreiro
Derreter um par de brinco,
Botar dobradiça e trinco
NA TAMPA DO TABAQUEIRO!

DEDÉ MONTEIRO
TABIRA –PE – 1969