PENSANDO EM TI

Sozinho, rolo no leito,
O vazio no meu peito
A cada segundo cresce,
E nesse triste momento,
Aqui, no meu pensamento,
Sua imagem me aparece.

Sinto tua companhia,
Sinto tua mão macia
Em meu corpo passeando.
Com teu cheiro inebriante
E teu corpo fascinante,
Eu fico até delirando.

E com a troca de beijos,
Nós cedemos aos desejos,
Na mais completa loucura,
E tudo se fez possível:
Uma noite inesquecível,
Cheia de amor e ternura.
 

Queimando-me nesta chama,
Abro os olhos (mas na cama)
Não te vejo ao meu lado.
Sinto aumentar meu tormento,
Pois só no meu pensamento
Meu sonho é realizado!

Hélio Leite - 2001

BESTEIRA

Eu estava sentado em uma calçada.
Saí de casa hoje todo molhado.
Eu desci a serra pelo outro lado
Bebi água naquela madrugada.

Passei muitas vezes por essa estrada.
Cheguei cedo, pois estava atrasado.
O cabelo é grande e também cortado.
Uma mala estava cheia de nada.

A casa é feia, pequena e bonita.
A manteiga foi assada no espeto.
Ela vinha com uma grande cesta.

Quando eu lhe vejo meu sangue se agita.
Até hoje não vi outro soneto
Como este, assim desta forma, tão besta!

Hélio Leite - 1999

A FILHA DO MEU PATRÃO

Nunca pensei de viver
Do jeito que estou vivendo,
Pois alguém que estou querendo
Eu sei que não posso ter.
Sei que vai me enlouquecer
Esta impossível paixão.
Eu vivo em grande aflição
E não posso fazer nada,
É que minha bela amada
É filha do meu patrão.

Quando ela olha pra mim
É com olhar de desprezo...
Nesta paixão vivo preso,
Que aos poucos me dá fim.
Ó, meu Deus, como é ruim
Viver em submissão!
Cumpro minha obrigação
E de uma coisa estou certo:
Não posso chegar nem perto
Da filha do meu patrão.

Uma grande diferença
Entre nós eu sei que existe.
Eu vivo assim muito triste
Cumprindo a minha sentença.
Perdi meus planos e a crença
Por viver na rejeição,
Pois a minha posição
Pertence à classe ralé,
E a menina que amo é
A filha do meu patrão.

Até me sujeitaria
A viver desta maneira:
Trabalhar a vida inteira,
Sem descansar um só dia,
Qualquer serviço eu faria,
Com toda disposição,
Sem ter remuneração,
Sem de nada reclamar;
Eu só queria ganhar
A filha do meu patrão.

Hélio Leite - 2002

EU SOU ALGUÉM QUE LHE AMA

Se nós vivêssemos juntos
Compartilhando os assuntos,
A mesa, o sofá, a cama...
Seria a minha riqueza.
Eu lhe digo com certeza:
Eu sou alguém que lhe ama.

Eu sou alguém que lhe ama
No meu peito há uma chama
Que nunca vai apagar.
Eu sei que sou seu amigo
Mas vivo a sonhar contigo
Dia e noite sem parar.

Dia e noite sem parar
Procuro me aproximar
De você cada vez mais,
Pois tendo você por perto
De uma coisa estou certo:
Me sinto feliz demais.

Me sinto feliz demais
Por saber que fui capaz
De conquistar um cantinho
Dentro do seu coração,
Por ter a sua atenção,
O seu respeito e carinho.

O seu respeito e carinho
Sempre deixa o meu caminho
Risonho e iluminado,
Mas quando você se ausenta
A saudade me atormenta,
Eu fico desanimado!

Eu fico desanimado
Por não viver ao seu lado
E o meu coração reclama.
Eu sei que sou seu amigo
Mas vivo a sonhar contigo
Pois sou alguém que lhe ama.

Hélio Leite - 2011

A CALVÍCIE CHEGOU ANTES DA VELHICE ACONTECER

Mote de Dedé Monteiro

Vinte e dois anos de idade,
E dos meus belos cabelos,
Que eu tinha prazer em tê-los,
Já perdi quase a metade.
É contra a minha vontade,
Mas nada posso fazer.
Tenho que compreender
Que as mudanças são constantes.
A calvície chegou antes
Da velhice acontecer.

É uma marca comum
Da hereditariedade.
Não vejo necessidade
Para usar remédio algum.
Meus cabelos, um por um,
Podem desaparecer,
Que não vou me entristecer,
Pois não são tão importantes.
A calvície chegou antes
Da velhice acontecer.

Hélio Leite - Jatiúca/PE, 2001

Aos 17 e aos 31 anos 

FAZENDO CABRA SAFADO

André Serafim, de Solidão-PE, era um poeta analfabeto. Certa vez numa cantoria deram-lhe o mote: "FAZENDO CABRA SAFADO" e ele disse:

Diz a antiga escritura
Que Adão foi feito de barro,
Mas essa história eu não narro
Porque é mentira pura.
Tem camarada que jura
Por São Pedro e São Conrado,
Mas acho que teja errado,
Que Deus nunca foi "loiceiro"
Pra tá dentro dum barreiro
FAZENDO CABRA SAFADO.

EDUCAÇÃO TAMBÉM É CUIDAR DO MEIO AMBIENTE

A mãe natureza chora,

Pois sente uma grande dor.

O homem é um predador

Que pouco a pouco a devora.

É preciso, e, sem demora,

Que ele mude totalmente

E plante em si a semente

Da consciência e da fé.

Educação também é

Cuidar do meio ambiente.

Hélio Leite - Agosto de 2007

A CACIMBA

Tá vendo aquela cacimba

Lá na bêra do riacho,

Im riba da ribancêra,

Qui fica, assim, pru dibáxo

De um pé de Tamarinêra?

Pois, um magóte de môça

Quage toda menhanzinha,

Foima, assim, aquela tuia,

Na bêra da cacimbinha

Tomando banho de cuia!

Eu não sei pru quê razão,

As águas dessa nacente,

As águas qui alí se vê,

Tem um gosto deferente

Das cacimba de bêbê...

As águas da cacimbinha

Tem um gôsto mais mió.

Nem sargada, nem insôça...

Tem um gostim do suó

Dos suvaco déssas môça...

Quando eu vejo éssa cacimba,

Qui inspio a minha cara

E a cara torno a inspiá,

Naquelas águas quilára,

Pego logo a desejá...

... Desejo, prá quê negá?

Desejo ser um caçote,

Cum dois óio dêsse tamanho!

Prá vê, aquele magóte

De môça tumando banho!

Zé da Luz