quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O PATATIVA QUE EU CONHECI



JOÃO ALBERTO HOLANDA DE FREITAS LANÇA O LIVRO “O PATATIVA QUE EU CONHECI”

Jornal - Alto Taquaral - 18/08/2010

Patativa do Assaré (1909/2002) era assim: testemunhava a vida em versos. E não foi diferente naquele abril de 1988, quando veio para Campinas para ser submetido à operação de catarata e ao transplante de córnea pelo oftalmologista cearense João Alberto Holanda de Freitas.

A convivência por três meses com a família do médico e dos amigos, os versos, as cantorias, as idas e vindas, os repentes e a sabedoria de um dos maiores poetas populares do país, estão agora documentados no livro “O Patativa que eu conheci” (Komedi,144 páginas), de João Alberto Holanda de Freitas. A obra traz um DVD encartado, com registros dos saraus “noite à dentro” durante a permanência de Patativa na cidade, e impressões do médico sobre o poeta conterrâneo.

O lançamento será no próximo dia 30 de agosto, às 19h, na CPFL Cultura, em Campinas.

Patativa “perdeu a vista em 1910, no período da dentição, em conseqüência da moléstia vulgarmente conhecida por dor d’olhos, conta João Alberto. “Por complicações no outro olho, dos 75 aos 79 anos, o poeta só enxergava ‘claro e escuro’”.

A história de João Alberto com Patativa começou quando o médico foi contatado pelo amigo Eudoro Santana sobre a situação do poeta. “Relatava-me o amigo que o médico que assistia Patativa, Hugo Santana de Figueiredo, havia comentado com o paciente, que a única solução era viajar para Campinas para me procurar, e submeter-se a uma cirurgia muito delicada, que consistiria em operar a catarata já muito avançada, e simultaneamente fazer o transplante de córnea”.

Patativa ficou hospedado na casa do médico e marcou, definitivamente, a vida dos Holanda de Freitas. “Diariamente, sempre que possível, fazíamos todas as refeições juntos: eu, minha esposa Marta e minhas filhas Ana Cristina e Eleusina (Leleu), como ele assim preferia chamar. À mesa, quase sempre Patativa interrompia a refeição e avisava: escutem esta...”.

Sem Patativa perceber, o médico ia registrando toda a genialidade do poeta auxiliado por um microgravador enfiado no bolso.

“Patativa tinha hábitos alimentares muito simples, comia pouco, frugalmente. No almoço, se servia basicamente de arroz e ovo cozido. Comia de colher. Uma vez concluída a refeição, não dispensava o café expresso, ia direto fumar um cigarrinho no jardim. Não gostava de TV, que não podia enxergar mesmo, mas ouvia o rádio o dia inteiro, sempre ligado em música ou nas notícias”, escreve o autor.

No livro, o leitor poderá, ainda, compartilhar de momentos difíceis vividos pelo poeta, confidenciados à Leleu, caçula do médico, quando lhe perguntou sobre os filhos. “Dos nove, um suicidou-se e minha filha Ana, que eu chamava de Nanã, morreu de fome nos meus braços, ela era linda, coitadinha”.

“Patativa expressava a justiça divina, ‘tem que haver a partilha’, insistia. Como repentista era um craque. Sem escolaridade alguma, uma pessoa de uma expressão cultural muito vasta. Um sábio”, testemunha o médico.

Em Campinas, Patativa escreveu seis poemas, sendo três dedicados ao oftalmolista – material este registrado no livro “O Patativa que eu conheci”.

“(...) Estou a córnea aguardando/ esperançoso e contente/ pensando de quando em quando/ que voltarei brevemente/ vendo a imensa beleza/ das obras da natureza/ preciosas e perfeitas/ depois da operação/ do famoso doutor João/ Alberto Holanda de Freitas”.

O médico conta, ainda, que Patativa fazia questão de dizer que era “agricultor, homem da terra”. Poesia? “Só nas horas vagas”.
Depois de mais de duas décadas, João Alberto puxou o fio da memória e resolveu registrar sua convivência com o poeta ilustre. Escreveu durante cinco meses, “noites e noites, dias e dias”, auxiliado pelo velho e confidente microgravador.

Quando a entrevista estava quase acabando, o médico me revela que também fez operação de catarata no grande músico Sivuca (1930-2006), em 1991. Rapidamente pego a caneta de volta, arrumo o bloquinho de anotação.

Sob meu olhar curioso, o médico cearense, decisivo e gentil nas palavras, já vai me avisando: “Essa é outra história...”.

Médico-escritor

João Alberto Holanda de Freitas nasceu em Aquiraz, cidade da região metropolitana de Fortaleza, Ceará. É graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, doutorado em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas e livre-docente pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Atua em Oftalmologia com ênfase em cirurgia e nos temas de vitrectomia, retina, catarata, descolamento de retina e vítreo.

É professor titular de Oftalmologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e membro da Academia Americana de Oftalmologia.

Foi presidente da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantas Intraoculares, da Associação Brasileira de Banco de Olhos, da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo e da Pró-Visão – Sociedade Campineira de Atendimento ao Deficiente Visual. Foi também diretor-presidente da Escola Comunitária de Campinas.

Além da Medicina, dedica-se aos estudos do folclore e é titular, desde 1984, da cadeira número 27, que homenageia Luís da Câmara Cascudo, da Academia Campineira de Letras e Artes.

É autor de vários livros sobre sua especialidade médcica, como Trauma Ocular, Atlas de Mácula, Laser em Oftalmologia, Vitrectomia, Oftalmologia Básica, Descolamento da Retina.

Serviço

Lançamento do livro “O Patativa que eu conheci” (Komedi, 144 páginas, R$ 50,00)
Autor: João Alberto Holanda de Freitas
Data: 30/08
Horário: 19h
Local: CPFL Cultura (Rua: Jorge Figueiredo Côrrea, 1632 - Chácara Primavera - Campinas)
Entrada franca

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Zé da Luz X Patativa do Assaré

AS TRÊS FULÔ DE PUXINANÃ

Três muié ou três irmã
Três cachorra da mulesta
Eu vi num dia de festa
num lugá Puxinanã.

A mais véia,a mais ribusta
Era mermo uma tentação
Mimosa flor do sertão
Que o povo lhe chama Augusta.

A segunda era Guilermina
Tinha o oiá que,ô mardição,
Matava quarqué cristão
O oiá dessa menina.

Os óios dela parecia
Duas estrelas tremendo
Se apagando e se acendendo
Em noite de ventania.

A tercêra era a Maroca
Um corpo munto má feito
Mais porém tinha nos peito
Dois cuscuz de mandioca.

Dois cuscuz que por capricho
Quando ela passou pru eu
Minhas venta se acendeu
Cum chêro vindo dos bicho.

Eu inté me atrapaiava
Sem sabê das três irmã
Que eu vi em Puxinanã
Qual era a que me agradava.

Iscuiendo a minha cruz
Pra sair desse imbaraço,
Desejei morrê nos braço
Da dona dos dois cuscuz.

ZÉ DA LUZ


TRÊS MOÇA
(Paródia de Fulô de Puxinanã de Zé da Luz)


Três moça,três atração,
Três anjo andando na terra,
Eu vi lá no pé da serra
Numa noite de São João.

A premêra era a Benvinda
E eu juro pro Jesus Cristo
Como eu nunca tinha visto
Uma coisinha tão linda.

Benvinda,o premêro anjo
Tinha a voz harmoniosa
Como as corda sonorosa
Do bandulim dos arcanjo.

A segunda,a Felisbela,
Era um mundo de beleza,
Não sei como a Natureza
Acertou pra fazê ela.

Os óio era dois primô
Com tanta quilaridade
Como quem sente sodade
De um bem que nunca vortô

A tercêra,a Conceição,
Era a mais nova das três
Parecia santa Inês
Quando sai na procissão.

Nunca houve sobre a terra
E não pode havê ainda
Quem diga qual a mais linda
Das moça do pé da Serra.

Se arguém mandasse jurgá
E a mais bonita iscuiê
Eu ficava sem sabê,
Pois todas três era iguá.

Quando oiei pras três menina
Oiei tornei a oiá,
Eu fiquei a maginá
Nas coisa santa e divina.

E o que ninguém desejô
Desejei naquela hora
Sê o grande Rei da Gulora
O Divino Criadô.

Mode agarrá as três donzelas,
Invorvê num santo véu
E levá viva pro céu
Pra ninguém mexê com elas.

PATATIVA DO ASSARÉ
Do livro “Ispinho e Fulô” pg 152

domingo, 26 de setembro de 2010

Um Mote - Três Glosas

SÃO OS SONS QUE NINGUÉM PODE ESQUECER
SE JÁ FOI RESIDENTE NO SERTÃO

Ainda sinto bem forte em meu ouvido
O martelo tinindo do ferreiro,
O cantar do rei galo no poleiro
E o jegue rinchando co’alarido.
Foguetório gerando um estampido
Numa noite animada de São João,
Passarinhos fazendo saudação
No horário do dia amanhecer,
São os sons que ninguém pode esquecer
Se já foi residente no Sertão.

Miguel Leonardo

O latido amistoso de um "jupi",
Vira-lata raçudo sem ter raça,
Uma banda de pífanos na praça,
O penoso cartar da juriti,
Um boaito saindo do jequi
E um vaqueiro a pegá-lo pela mão,
O estrondo redondo do trovão
Avisando que em breve vai chover,
São os sons que ninguém pode esquecer
Se já foi residente no sertão.

Dedé Monteiro

Minha mente inda tem tudo gravado:
O zumbido constante das abelhas,
O balido agradável das ovelhas
Retornando à tardinha pro cercado,
O barulho da chuva no telhado,
O batuque animado do pilão,
O piado que faz um bom pião
E o meu carro de boi sempre a gemer...
São os sons que ninguém pode esquecer
Se já foi residente no sertão.

Hélio Leite

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lirinha declama: O Abilolado

Poema O Abilolado - de Chico Pedrosa.
Lirinha, do grupo Cordel do Fogo Encantado, declamou no SESC Ipiranga no dia 30 de maio de 2009, eu estava presente.
Foi numa noite com exposição e apresentações sobre Patativa do Assaré.


João (filho de Patativa do Assaré), Lirinha e eu

Comício de Beco Estreito - Jessier Quirino

Já que estamos em época de campanha eleitoral:

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Pelo Sinal do Ébrio

O mestre Dedé Monteiro declama




Nunca deixei de beber...
E vou me acabar bebendo,
Embora passem fazendo
PELO SINAL.

Nos dias de carnaval,
Eu bebo por oito ou dez...
Depois vou cair nos pés
DA SANTA CRUZ.

Nós sabemos que a Jesus
O vinho fazia bem...
De não bebê-lo também
LIVRAI-NOS DEUS.

Se o próprio Rei dos Judeus
Bebia de vez em quando,
Eu morrer imitando
NOSSO SENHOR.

Só quem bebe por amor
Sabe o valor da cachaça...
Os outros não são da raça
DOS NOSSOS.

Precisando, eu vendo os troços,
Bebo o tutu de montilla,
Embora arranje, de fila,
INIMIGOS.

E se eu me vejo a perigos,
Sem ter no bolso um cruzado,
Eu bebo e deixo fiado
EM NOME DO PAI.

Toda missa que mãe vai,
Pra que eu deixe ela faz prece,
Porque a mãe nunca esquece
DO FILHO.

Mas eu quando vejo o brilho
D´uma garrafa de alguém,
Não ouço conselhos nem
DO ESPÍRITO SANTO!

E no dia que eu levanto
Tremendo feito um sacana,
Curo a ressaca é com cana,
AMÉM!

Dedé Monteiro –Tabira - 1971
do livro: Retalhos do Pajeú

A Campanha Eleitoral


Os letreiros e retratos
Vemos por todos os cantos.
É hora dos candidatos
Demonstrarem que são santos.
Já começou a folia
E não descansa um só dia
“Esse alegre pessoal”
Mentindo de mais a mais.
Tudo isso são os sinais
Da campanha eleitoral.

Vive sempre desprezado
O tão carente eleitor.
De repente esse coitado
Começa criar valor.
Com muita dedicação
Tratam esse cidadão
Com carinho especial,
Ele se torna importante,
É pena que só durante
A campanha eleitoral.

Tem gente que não se toca
E faz coisa muito feia:
Dá o seu “votinho” em troca
De uma carrada de areia,
De um saquinho de cimento,
Ou até mesmo de um cento
De bloco, um saco de cal
E outras coisas tão pequenas.
Vemos todas essas cenas
Na campanha eleitoral.

domingo, 19 de setembro de 2010

Minhas Inspirações

Sem eu menos esperar
Chegam sem nunca avisar
Com diversas intenções,
Recebo-as com muito apreço
E com prazer obedeço
Às Minhas Inspirações.

E quando estão ao meu lado
Me falam sobre o passado,
Meus segredos e paixões,
Por mais que me martirizem,
Vou anotando o que dizem
As Minhas Inspirações.

São pra mim fundamentais,
São as peças principais
Das minhas composições,
De que forma eu poderia
Fazer esta poesia
Sem Minhas Inspirações?

Quando afastam-se de mim
Fico triste, pois assim
Perco minhas direções,
Sinto um desejo profundo
De não ficar um segundo
Sem Minhas Inspirações

Segui caminhos dispersos
Colhendo estes simples versos
E sobre temas diversos
Dei minhas opiniões,
Porém meu caro leitor
Queira lê-las, por favor,
Para ver se têm valor
As Minhas Inspirações!

Minhas Inspirações - Meu Primeiro Livro de Poesias

Minhas Inspirações

APRESENTAÇÃO

O Poeta Hélio Leite, com esta publicação, leva os seus leitores a fazerem uma bela excursão por este país chamado Nordeste.
A obra é sobretudo uma imersão no Sertão do Pajeú, onde tudo é próprio, particular, original. E é este mundo fascinante que o poeta, através desta obra, descortina e mostra por dentro.
Para início de conversa, os leitores descobrirão como é que se fala nordestinês, idioma de vocabulário próprio, de sonoridade ímpar, OXENTE! Também manterão contato com a poesia alegre e verdadeira que canta o amor sem ressalvas; que fala da saudade das raízes sertanejas sem constrangimento e dos costumes do seu povo sem nenhuma sombra de inferioridade.
Com este livro o autor monta um verdadeiro álbum de fotografias onde é possível manter contato com os vários e ricos elementos da cultura do Sertão do Nordeste através das cenas montadas pelo seu versejar genial.
Esta publicação é na verdade um belo documentário em que o autor registra o Nordeste e o Sertão sob vários aspectos: como o seu povo vive ou sobrevive; seus costumes; seus labores; suas alegrias; suas mágoas; suas crenças; mostra, sobretudo que na sua terra o amor (ainda) existe.
A tudo isso some-se a forma alegre de versejar que só os poetas do Nordeste sabem fazer. E sabem fazer porque são mestres em alquimia; e a dor, o pranto, são transfigurados e os sorrisos brotam em forma de versos, a alegria reina em forma de poema.
Pois é. Esta é a obra que tive o prazer de receber o presente de apresentar ao público que há muito esperava por ela. Esta que, se depender da inspiração e do engenho criativo do autor, em breve será apenas a primeira de uma grande série dos sucessos.

DIERSON RIBEIRO

Baixe o Livro em PDF

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Casa de Patativa do Assaré recebe Festa da Padroeira



(Diário do Nordeste - 7/9/2010 )

Representante maior do sertanejo, a casa do poeta serviu também para o lançamento do Grito dos Excluídos

Assaré. Na Serra de Santana, o espectro da seca ronda o ambiente como ave de rapina em busca de mais uma vítima. A caatinga se espalha no solo estorricado pelo sol. No alto da serra, a casa de taipa onde nasceu o poeta Patativa do Assaré, porta-voz do agricultor sofrido, sem terra, o guerreiro da tribo Cariri que denunciou o flagelo dos seus irmãos nordestinos.

Foi neste cenário que o padre Vileci Vidal abriu a Festa da Padroeira de Assaré, Nossa Senhora das Dores, e anunciou o "Grito dos Excluídos" que, este ano, defende um plebiscito popular pelo limite da propriedade da terra. O pedido será levado ao Congresso Nacional, em Brasília, para que seja votada uma emenda constitucional que determine um limite ao tamanho das propriedades.

A missa teve início com a leitura de um poema de Patativa sobre reforma agrária. Na plateia, cerca de 300 pessoas, a maioria agricultores, que mostram na face o sofrimento em consequência de sucessivas secas. No altar em frente à casa do poeta, hoje transformada em "Museu do Agricultor", o celebrante justificou a escolha da localidade para a celebração, afirmando que ali Patativa deu um seu "grito de protesto", que foi ouvido em todo o Brasil contras as injustiças sociais e, principalmente, contra a concentração de terras.

O padre Vileci destacou o papel de Patativa como defensor dos pobres. Mesmo vivendo numa comunidade rural atrasada, dominada por coronéis que monopolizavam a agricultura, refém do descaso dos governantes, ele nunca abateu seu ânimo: ao contrário, fortaleceu-o ainda mais, tornando-se crítico do modelo econômico, político e social importo ao povo pobre.

Outra virtude do poeta, de acordo com o celebrante, era o seu sentimento religioso, que vem sendo seguido pela família. Todos os filhos e netos de Patativa, que moram na Serra de Santana, estavam presentes. Inês, a filha mais velha, que transcrevia seus poemas, disse que ele nunca perdia a festa da padroeira. Comprou uma casa ao lado da matriz para assistir às novenas, lembrou Inês.

O ritual teve início às 6 horas, com uma cavalgada que saiu da Igreja Matriz de Assaré para a Serra de Santana. No percurso de 20 quilômetros, grupos de cavaleiros se juntaram ao cortejo puxado por um carro de som, tendo a frente o próprio vigário e o prefeito da cidade, Francisco Evanderto Almeida.

Preces

O jovem agricultor Marcos Rodrigues Arrais se deslocou do Sítio Mameluco para acompanhar o grupo. Ia assistir à missa para pedir a Deus um bom inverno em 2011. Ele acrescentou que, este ano, perdeu tudo com a falta de chuvas. "Não colhi, sequer, um saco de milho". A mesma lamentação é manifestada pelo agricultor Francisco de Assis Dias, residente no Sítio Junco. Dias mostra a roça de milho perdida.

No meio do caminho, alunos da Escola Municipal Antonio Ângelo da Silva encenam uma poesia de Patativa sobre reforma agrária. O secretário de Cultura do Município, Marcos Salmo, lembra a devoção de Patativa à Nossa Senhora das Dores e destaca sua poesia profética em defesa dos pobres. O cortejo segue a sua trajetória, cortando o sertão seco em direção à Serra de Santana, onde outro grupo de devotos de Nossa Senhora das Dores e admiradores de Patativa aguarda os cavaleiros.

Católico praticante, Patativa tinha uma visão moderna de Deus e da religião. Para ele, o sofrimento do nordestino não era um castigo de Deus, mas fruto da ausência de políticas públicas destinas ao homem do campo. No poema "Caboclo Roceiro", ele reafirma a sua convicção religiosa com estes versos: "Tu és nesta vida o fiel penitente/ Um pobre inocente no banco do réu/Caboclo não guarda contigo esta crença/A tua sentença não parte do céu/ Tu és nesta vida um fiel penitente/ Um pobre inocente no banco do réu/ Caboclo não guarda contigo esta crença/ A tua sentença não parte do céu".

Para o padre Vileci, estes versos refletem a alma do poeta, um sertanejo calejado na luta para traduzir o sentimento do seu povo. Com a mesma coragem com que cavava a terra na luta diária pela sobrevivência, fazia poemas que eram utilizados como arma santa contra os opressores.

Restavam-lhe as palavras que, juntas, tornavam-se a voz do homem do sertão do Ceará, sua terra natal. Homem sertanejo, cabeça chata, que se orgulhava de sua gente, sua voz ecoava pelos quatro cantos do Nordeste. É dentro desse contexto que Patativa foi incluído na programação da Festa de Nossa Senhora das Dores.

De acordo com o professor Plácido Cidade Nuvens, Patativa foi um dos maiores poetas clássicos do Nordeste. Compôs sonetos eruditos. No entanto, preferia a poesia matuta. São versos escritos na terra seca, com o cabo da enxada, tendo como tinta o suor de seu rosto, o que justifica também, segundo o vigário, a sua identificação com o Grito dos Excluídos, por ser um representante dos marginalizados, complementa.

Enquete
Devoção engajada

Padre Vileci Vidal
Vigário do município de Assaré
O foco central é chamar a atenção da sociedade para as condições de crescente exclusão social na sociedade brasileira

Marcos Rodrigues Arrais
Agricultor
Vou para missa a fim de pedir à Nossa Senhora das Dores um bom inverno. Este ano, não colhi nem um saco de milho

Marcos Salmo
Secretário de Cultura de Assaré
A Cavalgada à casa de Patativa é um forma de homenagear o poeta que era devoto de Nossa Senhora das Dores

MAIS INFORMAÇÕES
Cáritas Diocesana do Crato
Rua Coronel Antonio Luiz, 1068
(88) 3521.8046
www.limitedaterra.org.br

GRITO DOS EXCLUÍDOS
Movimentos regionais devem apresentar suas demandas

Além das pautas locais, está sendo organizado um plebiscito para limitar propriedade de terra no Brasil

Assaré. A Campanha da Fraternidade deste ano propõe a participação num plebiscito popular, organizado pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, que consultará a população sobre a necessidade ou não de se estabelecer um limite para a propriedade da terra no País. O Fórum pela Reforma Agrária apresenta como limite máximo 35 módulos fiscais, o que corresponde no Ceará a 90 hectares, além de cinco hectares o módulo mínimo.

"Vida em primeiro lugar. Onde estão nossos direitos?". A pergunta está sendo levada às ruas pelos participantes da 16ª edição do Grito dos Excluídos, promovido pela Igreja Católica, por meio das pastorais e junto com outras igrejas cristãs e movimentos populares. Tradicionalmente, o evento se realiza no feriado de 7 de setembro, data comemorativa da Independência do Brasil. Mas, este ano, várias dioceses do Ceará decidiram antecipar a manifestação popular. Em Assaré, por exemplo, o "Grito" foi dado na abertura da festa da padroeira. A votação que começou no dia 1º de setembro vai a até o dia 7.

O Grito dos Excluídos é uma manifestação popular carregada de simbolismo, um espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos. Direito à moradia digna, acesso à saúde e educação de qualidade são apenas algumas demandas que estarão em pauta durante as atividades do Grito dos Excluídos no Ceará.

Protagonismo

O foco central, segundo o padre Vileci Vidal, é chamar a atenção da sociedade para as condições de crescente exclusão social na sociedade brasileira. Não é um movimento nem uma campanha, mas um espaço de participação livre e popular, em que os próprios excluídos, junto com os movimentos e entidades que os defendem, trazem à luz o protesto oculto nos esconderijos da sociedade e, ao mesmo tempo, o anseio por mudanças, justifica o vigário de Assaré.

O pressuposto básico do Grito é o contexto de aprofundamento do modelo neoliberal, como resposta à crise generalizada a partir dos anos 70 e que vem se agravando nas décadas seguintes. Nesse sentido, aqueles que são diretamente prejudicados e cerceados por esta situação econômica e social tornam-se protagonistas da denúncia dessas desigualdades.

Pauta regional

Além das reivindicações nacionais, os excluídos vão defender também assuntos regionais. De acordo com a coordenação do Grito, as manifestações serão realizadas de acordo com a realidade de cada município. Em Crato, por exemplo, os manifestantes incluíram na programação a construção da estrada que liga Crato a Santa Fé, um trecho que já foi asfaltado e agora se encontra danificado. O Estado diz que a responsabilidade é da prefeitura que, por sua vez, afirma que não tem condições de recuperar a rodovia.

Outra reivindicação dos excluídos é o pagamento do Garantia Safra no Município, que até o momento não foi feito. O coordenador local do Grito, Expedito Guedes, lembrou que durante a manifestação serão relacionadas outras reivindicações dos trabalhadores rurais e de moradores da periferia, que precisam de água, saneamento básico e assistência médica.

Afinal, o Grito dos Excluídos tem como objetivo unificar todos os gritos presos em milhões de gargantas, acordar os acomodados, ferir os ouvidos dos responsáveis pela exclusão e conclamar todos à organização e à luta, diz Expedito, advertindo que a manifestação é, sobretudo, o grito dos empobrecidos, dos indefesos, dos pequenos, dos sem vez e sem voz, dos enfraquecidos.

No Vale do Jaguaribe, o Grito dos Excluídos ocorrerá em Aracati, dando continuidade às lutas regionais pelos direitos humanos e sociais em virtude dos, segundo os moradores, graves problemas sócio-ambientais que afetam comunidades tradicionais neste município, como carcinicultura, produção de energia eólica, produção de eucalipto, exploração sexual de crianças e adolescentes e tráfico de drogas. Outros problemas socioambientais também estão na pauta do grito regional, como o caso dos atingidos pelos agrotóxicos na Chapada do Apodi, o impasse dos desapropriados pelos projetos de irrigação do Tabuleiro de Russas nos municípios de Limoeiro do Norte, Russas e Morada Nova, e a construção da barragem do Figueiredo, que atinge comunidades dos municípios de Iracema e Potiretama. A caminhada do Grito sai do bairro Pedregal até o largo da Igreja Matriz.

Antônio Vicelmo
Repórter

XV Feira da Rapadura - 22, 23 e 24 de Outubro de 2010 - Santa Cruz da Baixa Verde - PE


Depois de muitas especulações sobre a data e possíveis atrações da XV Feira da Rapadura, finalmente os coordenadores da festa disponibilizaram o período e programação do evento.
A Feira da Rapadura é um acontecimento que está no calendário festivo de Santa Cruz da Baixa Verde desde 1996 e que tem como objetivos divulgar a produção e comercialização de rapaduras fabricadas em nosso município. Tem o apoio das esferas governamentais, SEBRAE, Senhores de Engenho e empresários locais. Além da exposição de rapaduras e outros derivados da cana-de-açúcar, também faz parte das festividades apresentações culturais diversas e uma programação de shows que acontecem no pátio de eventos da cidade. Com a confirmação da festa para os dias 22, 23 e 24 de outubro e sua divulgação antecipada, acreditamos que fica mais fácil para os conterrâneos que estão distantes se programarem para vir participar do evento. Acompanhe, em primeira mão, a programação que nos foi fornecida pelos organizadores.

XV FEIRA DA RAPADURA
22 A 24 de outubro – 2010
Santa Cruz da Baixa Verde – PE

PROGRAMAÇÃO:

SEXTA FEIRA – 22/10/2010
06:00 H – ALVORADA
08:00 H – HASTEAMENTO DOS PAVILHÕES
16:00 H – DESFILES DAS BANDAS MARCIAIS DO MUNICIPIO
16:00 H – SOLENIDADE DE ABERTURA DA FEIRA
20:00 H – APRESENTAÇÕES CULTURAIS DAS CIDADES DO PAJEÚ
21:00 H – BANDA REGIONAL
23:00 H – BANDA LABAREDAS
02:00 H – CANTORES FÁBIO E NANDO

SÁBADO – 23/10/2010
06:00 H - ALVORADA
08:00 H – HASTEAMENTO DOS PAVILHÕES
15:00 H – EXPOCULTURA (PÁTIO DE EVENTOS)
15:30 H – APRESENTAÇÃO DE BACAMARTEIROS
16:00 H – ABERTURA DA FEIRA NOS ESTANDES
20:00 H – APRESENTAÇÕES CULTURAIS DAS CIDADES DO PAJEÚ
22:00 H – CANTOR ALMIR (EX-FEVERS)
23:00 H – CAROL E BANDA FORROZÃO CAPIM
02:00 H – BANDA CAPITAL DO SOL

DOMINGO – 24/10/2010
06:00 H – ALVORADA
08:00 H – HASTEAMENTO DOS PAVILHÕES
12:00 H – ABERTURA DA FEIRA NOS ESTANDES
15:00 H – PALESTRAS E OFICINAS CULTURAIS
20:00 H – APRESENTAÇÕES CULTURAIS DAS CIDADES DO PAJEÚ
22:00 H – BANDA REGIONAL
23:00 H – BANDA É O TCHAN (SALVADOR – BAHIA)
02:00 H – BANDA SAIA RODADA

MAIS INFORMAÇÕES ENTRAR EM CONTATO COM A COORDENAÇÃO.
Contato: (87) 3846 8149 / 3846 8680
E-mal: pmscbv.gabinete@ig.com.br