Um dia, perto da igreja,
Dois violeiros cantaram
Três pessoas colocaram
Quatro notas na bandeja;
Cinco horas nessa peleja,
Seis poemas declamados,
Sete motes bem glosados,
Oito toadas penosas,
Nove canções amorosas,
Dez martelos malcriados.
Dez sujeitos me cercaram,
Nove da manhã, na feira,
Oito armados com peixeira,
Sete deles cochicharam...
Seis, de mim se aproximaram,
Cinco passos recuei,
Quatro brechas encontrei,
Três chances aproveitadas,
Duas pernas preparadas
Uma carreira estiquei.
Um jangadeiro disposto,
Dois jumentos relinchando,
Três vaqueiros aboiando,
Quatro rugas no meu rosto,
Cinco sinais de bom gosto,
Seis pessoas comportadas,
Sete noites estreladas,
Oito terreiros varridos,
Nove trabalhos cumpridos,
Dez palavras inventadas.
Dez mosquitos, dez abelhas,
Nove panelas fervendo,
Oito meninos correndo,
Sete ripas, sete telhas,
Seis camisolas vermelhas,
Cinco mulheres dormindo,
Quatro janelas se abrindo,
Três galos cantarolando,
Duas velas se apagando,
Uma estrela reluzindo.
Um caminho de formigas,
Dois matutos trabalhando,
Três passarinhos cantando,
Quatro bonitas espigas,
Cinco espingardas antigas,
Seis arapucas armadas,
Sete porteiras fechadas,
Oito bodegas sortidas,
Nove jumentas paridas,
Dez peixeiras amoladas.
Dez valentes cangaceiros,
Nove pimentas ardidas,
Oito toalhas floridas,
Sete dias prazenteiros,
Seis amigos verdadeiros,
Cinco bêbados nojentos,
Quatro vigias atentos,
Três candeeiros acesos,
Dois enganadores presos,
Um período de tormentos.
Um cacimbão, um barreiro,
Dois cabritinhos mamando,
Três cachorros acuando
Quatro pintos no terreiro,
Cinco porcos no chiqueiro,
Seis serpentes venenosas,
Sete trilhas perigosas,
Oito ancoretas furadas,
Nove casas assombradas,
Dez violetas cheirosas.
Dez versinhos bem rimados,
Nove noites mal dormidas,
Oito estrofes concluídas,
Sete “pés” metrificados,
Seis livros autografados,
Cinco preces ao Divino,
Quatro sonhos de menino,
Três motivos pra sorrir,
Dois caminhos pra seguir,
Um poeta pequenino.
Hélio Leite
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