segunda-feira, 26 de março de 2012

TANTO AÇÚCAR NESSE PÃO
E EU TOMO SUCO SEM DOCE?

PATATIVA E O HOSPITAL SÃO FRANCISCO

Quando em 1974 eu me achava internado no Hospital São Francisco de Assis, no Rio de Janeiro, certo dia deu azar para os pacientes, na hora da merenda faltou manteiga para o nosso pão, na hora do almoço apenas um pouco de farofa para cada um, a nossa janta naquele dia foi uma comida sem graça, que ainda hoje estou por saber o que era. A minha lira buliçosa não podia silenciar tal acontecimento e falei em voz alta para São Francisco de Assis com os seguintes versos:

     Meu São Francisco de Assis,      
       Meu santo meu bom amigo,        
         Qual foi o mal que lhe fiz           
Pra nos dá tanto castigo? 

Seu amor nunca se apaga,
É venerado o seu nome,
Se tiver comida traga
Estou danado de fome.

O senhor foi penitente
Padeceu muita amargura
E hoje trata o seu doente
Com farofa sem gordura?

E achando que ainda não chega
A nossa grande aflição,
Tirou também a mantêga
De botar no nosso pão.

Depois nos manda uma janta
De coisa desconhecida,
Meu santo isto não adianta
Tenha dó de nossa vida!

Para a gente ser feliz
Enviamos nossa prece
Meu São Francisco de Assis
Tenha dó de quem padece.

Da sala vizinha,as irmãs ouviram o meu recital e uma delas se aproximando me fez a seguinte pergunta:
Seu António Gonçalves está atacando o hospital?
Eu lhe respondi que não, não havia mencionado nome de pecador, estava falando para São Francisco e a senhora não tem direito de reclamar.
No mesmo hospital São Francisco de Assis a irmã Joaninha, uma enfermeira muito amável, trazia suco para os pacientes, certa vez o suco não estava bem doce e eu rimei as seguintes sextilhas:

Este Rio de Janeiro
É uma terra encantada
Até pelo estrangeiro
É terra bem visitada
Mas dentro destes encantos
Eu vejo uma coisa errada.

O Rio a gente admira
Ninguém pode reprovar,
Porém eu sou um matuto
Que sei tudo observar
E aqui vejo uma mentira
Que eu não posso perdoar.

Por exemplo, o Pão de Açúcar
Que bastante encanta a mim,
Nunca houve neste mundo
Quem fizesse um pão assim
E se ele fosse de açúcar
Já tinha levado fim.

Descobri isto no suco
Que esta enfermeira me trouxe,
Vejo que a grande fartura
Do pão de açúcar acabou-se,
Tanto açúcar neste pão
E eu tomo suco sem doce?

Patativa do Assaré
 
Pão de Açucar
(Desenho de Ronaldo Cavalcante)

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