quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O PATATIVA QUE EU CONHECI



JOÃO ALBERTO HOLANDA DE FREITAS LANÇA O LIVRO “O PATATIVA QUE EU CONHECI”

Jornal - Alto Taquaral - 18/08/2010

Patativa do Assaré (1909/2002) era assim: testemunhava a vida em versos. E não foi diferente naquele abril de 1988, quando veio para Campinas para ser submetido à operação de catarata e ao transplante de córnea pelo oftalmologista cearense João Alberto Holanda de Freitas.

A convivência por três meses com a família do médico e dos amigos, os versos, as cantorias, as idas e vindas, os repentes e a sabedoria de um dos maiores poetas populares do país, estão agora documentados no livro “O Patativa que eu conheci” (Komedi,144 páginas), de João Alberto Holanda de Freitas. A obra traz um DVD encartado, com registros dos saraus “noite à dentro” durante a permanência de Patativa na cidade, e impressões do médico sobre o poeta conterrâneo.

O lançamento será no próximo dia 30 de agosto, às 19h, na CPFL Cultura, em Campinas.

Patativa “perdeu a vista em 1910, no período da dentição, em conseqüência da moléstia vulgarmente conhecida por dor d’olhos, conta João Alberto. “Por complicações no outro olho, dos 75 aos 79 anos, o poeta só enxergava ‘claro e escuro’”.

A história de João Alberto com Patativa começou quando o médico foi contatado pelo amigo Eudoro Santana sobre a situação do poeta. “Relatava-me o amigo que o médico que assistia Patativa, Hugo Santana de Figueiredo, havia comentado com o paciente, que a única solução era viajar para Campinas para me procurar, e submeter-se a uma cirurgia muito delicada, que consistiria em operar a catarata já muito avançada, e simultaneamente fazer o transplante de córnea”.

Patativa ficou hospedado na casa do médico e marcou, definitivamente, a vida dos Holanda de Freitas. “Diariamente, sempre que possível, fazíamos todas as refeições juntos: eu, minha esposa Marta e minhas filhas Ana Cristina e Eleusina (Leleu), como ele assim preferia chamar. À mesa, quase sempre Patativa interrompia a refeição e avisava: escutem esta...”.

Sem Patativa perceber, o médico ia registrando toda a genialidade do poeta auxiliado por um microgravador enfiado no bolso.

“Patativa tinha hábitos alimentares muito simples, comia pouco, frugalmente. No almoço, se servia basicamente de arroz e ovo cozido. Comia de colher. Uma vez concluída a refeição, não dispensava o café expresso, ia direto fumar um cigarrinho no jardim. Não gostava de TV, que não podia enxergar mesmo, mas ouvia o rádio o dia inteiro, sempre ligado em música ou nas notícias”, escreve o autor.

No livro, o leitor poderá, ainda, compartilhar de momentos difíceis vividos pelo poeta, confidenciados à Leleu, caçula do médico, quando lhe perguntou sobre os filhos. “Dos nove, um suicidou-se e minha filha Ana, que eu chamava de Nanã, morreu de fome nos meus braços, ela era linda, coitadinha”.

“Patativa expressava a justiça divina, ‘tem que haver a partilha’, insistia. Como repentista era um craque. Sem escolaridade alguma, uma pessoa de uma expressão cultural muito vasta. Um sábio”, testemunha o médico.

Em Campinas, Patativa escreveu seis poemas, sendo três dedicados ao oftalmolista – material este registrado no livro “O Patativa que eu conheci”.

“(...) Estou a córnea aguardando/ esperançoso e contente/ pensando de quando em quando/ que voltarei brevemente/ vendo a imensa beleza/ das obras da natureza/ preciosas e perfeitas/ depois da operação/ do famoso doutor João/ Alberto Holanda de Freitas”.

O médico conta, ainda, que Patativa fazia questão de dizer que era “agricultor, homem da terra”. Poesia? “Só nas horas vagas”.
Depois de mais de duas décadas, João Alberto puxou o fio da memória e resolveu registrar sua convivência com o poeta ilustre. Escreveu durante cinco meses, “noites e noites, dias e dias”, auxiliado pelo velho e confidente microgravador.

Quando a entrevista estava quase acabando, o médico me revela que também fez operação de catarata no grande músico Sivuca (1930-2006), em 1991. Rapidamente pego a caneta de volta, arrumo o bloquinho de anotação.

Sob meu olhar curioso, o médico cearense, decisivo e gentil nas palavras, já vai me avisando: “Essa é outra história...”.

Médico-escritor

João Alberto Holanda de Freitas nasceu em Aquiraz, cidade da região metropolitana de Fortaleza, Ceará. É graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, doutorado em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas e livre-docente pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Atua em Oftalmologia com ênfase em cirurgia e nos temas de vitrectomia, retina, catarata, descolamento de retina e vítreo.

É professor titular de Oftalmologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e membro da Academia Americana de Oftalmologia.

Foi presidente da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantas Intraoculares, da Associação Brasileira de Banco de Olhos, da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo e da Pró-Visão – Sociedade Campineira de Atendimento ao Deficiente Visual. Foi também diretor-presidente da Escola Comunitária de Campinas.

Além da Medicina, dedica-se aos estudos do folclore e é titular, desde 1984, da cadeira número 27, que homenageia Luís da Câmara Cascudo, da Academia Campineira de Letras e Artes.

É autor de vários livros sobre sua especialidade médcica, como Trauma Ocular, Atlas de Mácula, Laser em Oftalmologia, Vitrectomia, Oftalmologia Básica, Descolamento da Retina.

Serviço

Lançamento do livro “O Patativa que eu conheci” (Komedi, 144 páginas, R$ 50,00)
Autor: João Alberto Holanda de Freitas
Data: 30/08
Horário: 19h
Local: CPFL Cultura (Rua: Jorge Figueiredo Côrrea, 1632 - Chácara Primavera - Campinas)
Entrada franca

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